Intervenção Militar! Será?

Intervenção militar, militares no poder, ditadura, essas palavras tem ecoado nas redes sociais, em manifestações por todo o País e ganhado cada vez mais adeptos e simpatizantes da ideia. Sendo assim, e após assistir um vídeo onde uma menina reivindicava mudanças no país, o impeachment da Dilma e se denominava "de direita" mas  não sabia explicar o porque, resolvi escrever sobre o tema.

Inicialmente, nasci em 1987, momento em que, as ”diretas já” já haviam ocorrido e Tancredo Neves eleito, ou seja, não vive os “anos de chumbo”. Desta feita, meu posicionamento funda-se basicamente na minha formação acadêmica, propiciada a duras penas por minha família e por meus estudos. Mas isso não significa uma menor compreensão do citado período.

Pois bem, para você que talvez tenha pensado em uma intervenção militar/ditadura não parar de ler o texto na definição, vou definir Ditadura como um Regime que aglutina ou polariza todo o poder em suas mãos, ou seja, os conhecidos Legislativo (cria leis) Executivo (executa as leis) e Judiciário (julga o cumprimento das leis) é concentrado nas mãos de uma única pessoa ou grupo. No brasil, tal período ocorreu entre 1964 a 1985, cerca de 20 anos.

Dito isto, surge a primeira pergunta, porque o Brasil, que já possuía um presidente eleito (Jango) foi submetido à Ditadura? E, sendo bem sintético, em 1964 o mundo pulsava uma interminável Guerra Fria encabeçada pelas duas grandes potências mundiais EUA e União Soviética, de uma lado se defendia o livre comercio e a propriedade privada (EUA) e do outro lado a igualdade Social (URSS), e o nosso então presidente, possuía algumas ideias de cunho social como, implementação da reforma agrária, controle de lucros das empresas, fim do analfabetismo e etc. o que consequentemente deixou nossa elite preocupada e irritada com a possibilidade de obter menos lucros. Irritados com o jeito Jango de ser, os militares, orquestrados pelos endinheirados realizaram o golpe.

Adiante, conceituada a contextualiza a Ditadura brasileira, impreterível observar o que ocorreu nesses 20 anos ditatoriais e quais frutos colhemos, para que assim, você possa escrever seu cartaz em manifestações.

Ora, o objetivo do Golpe era claro, evitar as ideias soviéticas no Brasil a qualquer custo, qualquer custo mesmo! Sendo assim, a possibilidade de questionamento foi reduzida a zero, os Militares agiam a seu bel prazer, comandando tudo o que acontecia e da forma que queriam. Foram destruídas todas as oposições do governo, os meios de comunicações eram rigorosamente controlados e o pior, e que me deixa mais estarrecido, a REPRESSÃO, que atingiu graus extremos, com TORTURAS, PERSEGUIÇÕES, ASSASSINATOS e PRISÕES INFUNDADAS!

Foram 20 anos, em que você não poderia dizer o que pensa, não poderia escolher o governante que julgasse mais capaz, não tinha acesso aos livros que quisesse, assistia aulas com militares a porta, perdia amigos na calada da noite e o MEDO pairava no ar. Você era simplesmente um nada, que tinha toda sua conduta regulada por pessoas armadas, que tinham carta branca para te prender e torturar. Dentro dos quarteis existiam quartos de tortura, os soldados realizavam CURSOS DE TORTURA, e veja só, os professores eram até internacionais.

Pronto, eu poderia e queria parar por aqui, pois, ser torturado por não concordar com alguma coisa, seja ela ideológica, religiosa e etc. é um absurdo. Mas, como existem devotos fieis da Ditadura, que alegam vários benefícios obtidos no período governado pelos Militares, passo a escrever sobre seus argumentos, e ao final concluir que, A DITADURA FOI A PIOR COISA QUE ACONTECEU NESSE PAÍS, não existindo um angulo sequer com bons  frutos. 

De pronto, os defensores alegam que a economia brasileira prosperou singularmente, chamando o período de "MILAGRE ECONÔMICO". Contudo, o que aconteceu na verdade foi uma reforma tributária que puniu a todos e colocou mais grana nos cofres públicos. Para ser mais preciso, as arrecadações tributárias representavam cerca de 16% do nosso PIB e passou a a ser de 25%[1] (vide imagem abaixo).

Com mais dinheiro não mão, os geniais ditadores resolveram fazer investimentos megalomaníacos em infraestrutura, que além de trazer eternos danos ambientais, como por exemplo, o fim do Salto das Sete Quedas, considerada a maior cachoeira em volume de agua do mundo, para construção da usina de Itaipu, por vezes tais construções não trouxeram nenhum benefício contundente ao País. E mais, tais vultuosas obras foram construídas sem ninguém saber ao certo quanto custaram, sendo a super valorização de obras inquestionável.

Dinheiro nos cofres públicos, grandes obras sendo construídas e a falsa impressão de que nossa economia prosperava. Pobre ilusão, o País afundava-se em dívidas, que até hoje não para de crescer. Em números, a dívida externa brasileira em 1964 era de 3,3 Bilhões de Dólares, e ao final do regime militar de 106 Bilhões de Dólares (vide gráfico abaixo)!!

Em seguida, e no meu ponto de vista, o pior dos argumentos dos amigos da ditadura, é que a EDUCAÇÃO melhorou. Ora, até 1964, o Brasil possuía um sistema educacional público (ensinos fundamental e médio) melhor do que o privado. Dá pra acreditar nisso? Pois é, alunos de escolas privadas eram considerados de “segunda linha”, algo parecido com o que passam algumas Universidades Privadas hoje em dia. Nas escola públicas ensinavam línguas, como francês, latim e inglês e os Professores eram colocados como “mestres do saber”, ou seja, RECONHECIDOS e Valorizados ($$). Situação veementemente transformada após 1964, eis que, várias disciplinas, como Filosofia e línguas foram proibidas e retiradas da grade curricular por serem consideradas subversivas e contra o Regime Militar. E o pior, os professores começaram a ser perseguidos, torturados e mortos o que gerou o êxodo de grandes professores das salas de aulas.  Sucateando a educação pública.

E mais, os argumentos de que na época da ditadura havia respeito, inexistia corrupção e havia segurança, também não merecem qualquer valia. É que, respeito é totalmente diferente de medo! O que existia era MEDO, medo de falar, de se posicionar, de debater de sair de casa, de tudo. O que inevitavelmente destruiu nossa capacidade de pensar, questionar, debater, escolher. As consequências disso são vistas hoje, o brasileiro não se interessa por política, não sabe o que é o Congresso, o que um senador faz, o que é um decreto e etc. Foi um atrofiamento da nossa capacidade de escolher as melhores opções para governar. NÃO SABEMOS ESCOLHER, PARTICIPAR, COBRAR RESULTADOS E ETC. E digo isso ao olhar as manifestações dos últimos dias, pois muitas pessoas que lá estavam, só sabiam que “TUDO TÁ RUIM”, mas não sabem o que precisa ser cobrado para mudança, fazem cartazes ridículos, colocando o Vasco da Gama como uma das reinvindicações. A insatisfação é geral, mas não sabemos direito como e o que protestar.

Quanto a corrupção, vou me reservar a dizer que muitos militares hoje tem grandes fazendas e empresas distintas, e ninguém sabia, ou podia perguntar, quanto custavam as obras faraônicas realizadas no período militar.

Ex positis, e sendo bem direto, um governo que reprime seus governados é medíocre! Além disso, nossa experiência nos mostrou que os militares no poder foram desastrosos em todos os setores de nossa sociedade, o e os azedos frutos desses 20 anos são suportados por todos nós.

O que deve prevalecer é um governo democrático, que vai muito além do direito de votar e ter seu voto o mesmo valor de um Empresário milionário, diz respeito ao direito de se manifestar e de expressar opiniões. Ao direito de não concordar com as atitudes de quem está no poder sem sofrer repressões.

É bem verdade que ainda não sabemos fazer isso com maestria, mas não destruamos o que foi construído! Cobremos, acompanhemos, e discutamos nosso atual governo, mas jamais voltemos à 1964!

Parafraseando meu personagem bíblico preferido, ditadura é nevoa de nada, não faz nenhum sentido!

                                                                                                Guinther Reinke

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[1]  https://brasilfatosedados.wordpress.com/2011/06/30/carga-tributaria-post-a-ser-publicado-10/