quarta-feira, 1 de abril de 2015

A hipocrisia da Classe Media: Bolsa Família!

Ascensão social, esse é o objetivo de todo e qualquer cidadão. O da classe “C” quer passar para a “B” o da ”B” para a ”A” e assim por diante. Acontece que, nossa classe media (tecnicamente B), visando alcançar a classe “A”, a imita e é maciçamente influenciada, chegando a ser, como o próprio nome do texto sugere, Hipócrita.

Dito isto e tendo em vista o ódio que a classe “A” possui em relação a programas sociais, políticas assistencialistas e etc. nota-se a propagação de frases prontas e chavões, condenando os beneficiários dos programas sociais e os próprios programas sociais, tais como, “é preciso oferecer a vara e não o peixe”, sou o que sou porque trabalhei e não dependi de esmolas do governo“. Tais frases além de não enfrentarem os problemas sociais brasileiros como se deve, são muita das vezes preconceituosas.

No Brasil, o programa social mais ridicularizado, odiado e difamado é o denominado Bolsa Família. Programa social tratado pela lei 10.836/2004[1], que consiste basicamente em distribuição de renda às famílias que se encontrem em situação de pobreza(renda familiar per capita de R$ 140,00[2]), extrema pobreza(renda familiar per capita de R$ 70,00) e que tenham em sua composição, gestantes, crianças (0 a 12 anos) e adolescentes (até 15 anos).

Além da situação calamitosa vivida por tais pessoas, para fazer jus ao benefício, é necessário que: Havendo criança de até 7 anos, seu cartão de vacina esteja completo. Havendo gestante, a realização do pré-natal e acompanhamento da saúde do bebê. Havendo adolescentes, estes estejam matriculados na escola e com uma frequência mínima, que varia de 75% a 85% a depender da idade.

Ou seja, o legislador, claramente objetivou oferecer auxilio à pessoas literalmente miseráveis, e ainda os estimula a frequentar escolas e demandarem atenção à sua saúde, visando aumentar as possibilidades, mesmo que minimante, das classes X, Y e Z, saírem da miséria e extrema pobreza.

Digo minimante pois os valores oferecidos são irrisórios, variando de R$ 77,00 (setenta e sete reais) a R$ 336,00 (trezentos e trinta e seis reais), mesmo que uma família possua diversos filhos.

Pois bem, resta claro que o Bolsa Família, além de comprometer irrisoriamente o PIB Brasileiro, visa colaborar com pessoas que realmente precisam de um empurrãozinho para viverem minimamente com dignidade. Contudo as classes A e B, carregadas de preconceito, afirmam insistentemente que tal programa social é para “vagabundos”, que quem trabalha vence na vida, que as praticas assistencialistas são eleitoreiras, que ocorrem desvios de verbas do programa e por ai vai.

Destas afirmações começo com a de que existem pessoas que burlam documentos para obterem o benefício. Realmente existem pessoas que o fazem, mas isso desqualifica as pessoas que merecem de fato receber o benefício? Com certeza não, se assim fosse, também deveríamos acabar com o “Ciência sem Fronteiras” e as bolsas de estudo internacionais, eis que diversos universitários também fazem suas falcatruas.

Ora, da mesma forma que existem “pobres” querendo burlar o bolsa família, também existe a “classe média” querendo burlar o “seguro desemprego”, “Ciência sem fronteiras” e etc. 

Quanto ao bolsa família ser um programa eleitoreiro, realmente entendo que o Partido que governa nosso País hoje leva muita vantagem por ter expandido significativamente os beneficiários do programa, mas isso não significa imoralidade, ou falta de ética, pois as pessoas votam, via de regra, em quem defende seus interesses e não há nenhum problema nisso.

Quanto aos que acreditam que basta trabalhar e se esforçar para vencer na vida, vocês realmente precisam deixar o preconceito de lado e pensarem melhor. Por acaso o milionário se esforçou mais do que um professor que passou noites e noites estudando e formulando sua tese de dissertação? Por acaso o filho do empresário concorre em igualdade no vestibular para medicina com o filho do operário, que precisa trabalhar com seu pai todos os dias? Por acaso o gari trabalha menos do que o advogado? Não existe formula do sucesso, e sim infinitos fatores que influenciam nosso sucesso ou não na vida. Não existe uma regra proporcional esforço/sucesso.

Por fim, caso você queira o fim do programa bolsa família, lembre-se que você está sozinho nesse barco, eis que, nenhum partido político pretende extingui-lo!

Ex positis, concluo que, medidas/programas assistencialistas são necessários e visam equilibrar as relações sociais. Justiça não é igualdade. Então pare de condenar os programas sociais  e deixe a hipocrisia de lado.
Por um Brasil melhor e mais justo!

Guinther Reinke





[2] Renda per capita -  Valor da renda total da família dividida pelo número de integrantes;