Ascensão social, esse
é o objetivo de todo e qualquer cidadão. O da classe “C” quer passar para a “B”
o da ”B” para a ”A” e assim por diante. Acontece que, nossa classe media
(tecnicamente B), visando alcançar a classe “A”, a imita e é maciçamente
influenciada, chegando a ser, como o próprio nome do texto sugere, Hipócrita.
Dito isto e tendo em vista o ódio que a classe “A” possui em relação a programas sociais,
políticas assistencialistas e etc. nota-se a propagação de frases prontas e
chavões, condenando os beneficiários dos programas sociais e os próprios
programas sociais, tais como, “é preciso oferecer a vara e não o peixe”, sou o
que sou porque trabalhei e não dependi de esmolas do governo“. Tais frases além
de não enfrentarem os problemas sociais brasileiros como se deve, são muita das
vezes preconceituosas.
No Brasil, o
programa social mais ridicularizado, odiado e difamado é o denominado Bolsa
Família. Programa social tratado pela lei 10.836/2004[1],
que consiste basicamente em distribuição de renda às famílias que se encontrem
em situação de pobreza(renda familiar per capita de R$ 140,00[2]),
extrema pobreza(renda familiar per capita de R$ 70,00) e que tenham em sua
composição, gestantes, crianças (0 a 12 anos) e adolescentes (até 15
anos).
Além da situação
calamitosa vivida por tais pessoas, para fazer jus ao benefício, é necessário
que: Havendo criança de até 7 anos, seu cartão de vacina esteja completo. Havendo
gestante, a realização do pré-natal e acompanhamento da saúde do bebê. Havendo
adolescentes, estes estejam matriculados na escola e com uma frequência
mínima, que varia de 75% a 85% a depender da idade.
Ou seja, o
legislador, claramente objetivou oferecer auxilio à pessoas literalmente
miseráveis, e ainda os estimula a frequentar escolas e demandarem atenção à sua
saúde, visando aumentar as possibilidades, mesmo que minimante, das classes X,
Y e Z, saírem da miséria e extrema pobreza.
Digo minimante
pois os valores oferecidos são irrisórios, variando de R$ 77,00 (setenta e sete
reais) a R$ 336,00 (trezentos e trinta e seis reais), mesmo que uma família
possua diversos filhos.
Pois bem, resta
claro que o Bolsa Família, além de comprometer irrisoriamente o PIB
Brasileiro, visa colaborar com pessoas que realmente precisam de um
empurrãozinho para viverem minimamente com dignidade. Contudo as classes A e
B, carregadas de preconceito, afirmam insistentemente que tal programa social é
para “vagabundos”, que quem trabalha vence na vida, que as praticas
assistencialistas são eleitoreiras, que ocorrem desvios de verbas do programa e
por ai vai.
Destas afirmações
começo com a de que existem pessoas que burlam documentos para obterem o benefício.
Realmente existem pessoas que o fazem, mas isso desqualifica as pessoas que
merecem de fato receber o benefício? Com certeza não, se assim fosse, também deveríamos acabar
com o “Ciência sem Fronteiras” e as bolsas de estudo internacionais, eis que diversos universitários também fazem suas falcatruas.
Ora, da mesma
forma que existem “pobres” querendo burlar o bolsa família, também existe a
“classe média” querendo burlar o “seguro desemprego”, “Ciência sem fronteiras” e
etc.
Quanto ao bolsa
família ser um programa eleitoreiro, realmente entendo que o Partido que
governa nosso País hoje leva muita vantagem por ter expandido
significativamente os beneficiários do programa, mas isso não significa
imoralidade, ou falta de ética, pois as pessoas votam, via de regra, em quem
defende seus interesses e não há nenhum problema nisso.
Quanto aos que
acreditam que basta trabalhar e se esforçar para vencer na vida, vocês
realmente precisam deixar o preconceito de lado e pensarem melhor. Por acaso o
milionário se esforçou mais do que um professor que passou noites e noites estudando e formulando sua tese de dissertação? Por
acaso o filho do empresário concorre em igualdade no vestibular para medicina
com o filho do operário, que precisa trabalhar com seu pai todos os dias? Por acaso o gari trabalha menos do que o advogado? Não
existe formula do sucesso, e sim infinitos fatores que influenciam nosso
sucesso ou não na vida. Não existe uma regra proporcional esforço/sucesso.
Por fim, caso você
queira o fim do programa bolsa família, lembre-se que você está sozinho nesse
barco, eis que, nenhum partido político pretende extingui-lo!
Ex positis,
concluo que, medidas/programas assistencialistas são necessários e visam
equilibrar as relações sociais. Justiça não é igualdade. Então pare de
condenar os programas sociais e deixe a hipocrisia de lado.
Por um Brasil
melhor e mais justo!
Guinther
Reinke
[1] Lei 10.836/2004 - http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2004/lei/l10.836.htm
[2] Renda per capita - Valor da renda total da família dividida
pelo número de integrantes;